Canta forte, canta alto - Contos da FLUP baseados em cações de Marinho da Vila


Duas percepções se somaram durante meu trabalho de orientação e seleção das narrativas curtas criadas pela minha turma da FLUP/2018. A primeira delas, de alegria, veio do prazer de revisitar o cancioneiro de Martinho da Vila. O tom maior e a positividade das canções inspiraram não só os contos, mas também o meu trabalho de orientação. Tivemos encontros presenciais e à distância num clima de cordialidade e confiança. Essa espécie de cidade inventada, uma utopia aqui e agora que é a FLUP, combinou muito bem com o Rio de Janeiro possível e esperançoso que Martinho canta. Vi os contos, os que foram e os que não foram selecionados, irem nascendo e se transformando, apontando para caminhos muitas vezes inusitados, alguns empenhados, inclusive, em manter uma relação tensa com as canções originais, a partir da cidade real. A violência apareceu obrigatoriamente. Vieram à tona também as vozes de grupos emergentes (insurgentes?), em especial as de negros e dos homossexuais. A segunda percepção foi a de um precedente ético que se impôs. O dilema de orientar e estimular a criação dos contos (três ou quatro autores para cada canção) e, ao fim, selecionar apenas um, não é fácil para nenhum orientador. No entanto posso assegurar que a grande contrapartida foi a gratidão que os autores, principalmente aqueles que não foram selecionados, manifestaram. Cresço e aprendo com isso. Crescemos e aprendemos todos. Fica, na soma dessas percepções, a compreensão de que essa utopia que a FLUP inaugura tem muito a nos ensinar sobre os processos de exclusão e discriminação que a cidade impõe. Para enfrentá-los, o aprendizado de uma luta que não pode prescindir da solidariedade.

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