Postagens

Mostrando postagens de abril, 2019

Antiode para o Rio de Janeiro em 23 de abril

Este poema é de 23 de abril de 2014. Republico hoje. Salve Jorge!!! Antiode para o Rio de Janeiro em 23 de abril Hoje de madrugada nos subúrbios de minha cidade Eu teria sido acordado pelo tiroteio das cangalhas A frouxa sensação de que pertenço ao dia A quase alegre comunhão imaginada dos solitários Apaziguariam essa ânsia de minerar o outro Mas as minas me subtraem feriados Não largo a lida da forja Das ferramentas de reinventar Dragões E viro dragão Contra a lança dos nerds E o calabouço fluxo cadafalso Da informação o amém silencioso Ante as gulag sem muros de cracudos E a desova dos amarildos E viro dragão Cuspo meu hálito cru Contra os toninhos casamenteiros As filhas de maria caçarola Os pais do meu sopão primeiro E a caridade da farinha pouca E viro dragão Para te saudar Santo que me enfrenta Ouro que me inventa Em mil fogos de artifícios Para não esquecer as ofensas Para não calar as demandas Para acordar o sono dos justos No tr

A propósito do racismo na literatura

Imagem
As facções estão aí. Basta pintar a grana dos banqueiros que qualquer curadoria aciona uma ADA da vida. Amigos brancos e neobilacs prá lá. Amigos pretos e periféricos pra cá. Perde sempre a pesquisa (será possível?) sobre a poesia brasileira contemporânea. Perde mais ainda a leitura. Perde tudo a crítica! Em 2013, eu e Oswaldo Martins organizamos o livro Outra - poesia reunida no sarau Manguinhos . No texto de apresentação do livro demarcávamos esse campo minado onde até hoje tem gente perdendo o pé. Vale a pena republicar aqui. Muitas já foram as coletâneas organizadas a partir da produção poética e literária de espaços pobres, populares, ou periféricos na última década – não por acaso, a mesma década em que, desde a abertura política e a volta da liberdade de voto e de expressão no país, conseguimos levar mais longe a experiência da democracia e da cidadania. A consciência dos direitos civis e da participação popular na construção da esfera pública atingiu territórios

Sobre Chico Buarque na FLIST 2019

Imagem
Sábado, 27, vou falar sobre Chico Buarque na Flist - Festa Literária de Santa Teresa. Revejo aqui algumas coisas que já escrevi sobre o cantor, compositor, dramaturgo e escritor: 1) Sobre "Roda viva" -  http://www.chicobuarque.com.br/critica/crit_roda_faria.htm 2) Sobre "Estorvo" - http://www.chicobuarque.com.br/critica/crit_esto_faria.htm 3) Sobre "Benjamin" -  http://www.chicobuarque.com.br/critica/crit_benj_faria.htm 4) "Severinos e Iracemas: uma leitura do Brasil em fotos de Sebastião Salgado e canções de Chico Buarque". In: Verbo de Minas: Letras. v. 5, n. 10. CES/JF: Juiz de Fora, 2006. https://seer.cesjf.br/…/verboDeMin…/article/viewFile/751/602 5) "Budapeste, ou a inversão de babel". In: Alguma prosa. Giovanna Dealtry, Masé Lemos, Stefania Chiarelli. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007. https://www.7letras.com.br/alguma-prosa-ensaio-sobre-litera… 6) "Leite derramado: antípoda da literatura ma

Sem respeito, de Byung-Chul Han

O texto a seguir é o primeiro capítulo do livro No enxame , de Byung-Chul Han (Vozes, 2018). Minha sugestão é apenas trocar-lhe o título: O que é Golden Shower? Uma explicação teórica para a atual realidade política Respeito significa literalmente olhar para trás [Zurückblicken]. Ele é um olhar de volta [Rücksicht]. No trato respeitoso com os outros, controlamos o nosso observar [Hinsehen] curioso. O respeito pressupõe um olhar distanciado, um pathos da distância. Hoje, ele dá lugar a um ver sem distância, caraterístico do espetáculo. O verbo latino spectare, ao qual espetáculo remonta, é um olhar voyeurístico, ao qual falta a consideração distanciada, o respeito (respectare). A distância distingue o respectare do spectare. Uma sociedade sem respeito, sem o pathos da distância, leva à sociedade do escândalo.  O respeito é o alicerce da esfera pública. Onde ele desaparece, ela desmorona. A decadência da esfera pública e a crescente ausência de respeito se condicionam

Canta forte, canta alto - Contos da FLUP baseados em cações de Marinho da Vila

Imagem
Duas percepções se somaram durante meu trabalho de orientação e seleção das narrativas curtas criadas pela minha turma da FLUP/2018. A primeira delas, de alegria, veio do prazer de revisitar o cancioneiro de Martinho da Vila. O tom maior e a positividade das canções inspiraram não só os contos, mas também o meu trabalho de orientação. Tivemos encontros presenciais e à distância num clima de cordialidade e confiança. Essa espécie de cidade inventada, uma utopia aqui e agora que é a FLUP, combinou muito bem com o Rio de Janeiro possível e esperançoso que Martinho canta. Vi os contos, os que foram e os que não foram selecionados, irem nascendo e se transformando, apontando para caminhos muitas vezes inusitados, alguns empenhados, inclusive, em manter uma relação tensa com as canções originais, a partir da cidade real. A violência apareceu obrigatoriamente. Vieram à tona também as vozes de grupos emergentes (insurgentes?), em especial as de negros e dos homossexuais. A segunda percepç

Um autógrafo de Giovanna Dealtry

Imagem
Última terça, mexo em papéis antigos e encontro um original do Anacrônicas . Na última página, um comentário de Giovanna Dealtry, do momento em que terminei o livro  (o original é de 1999 e a primeira edição de 2005). Leio com ternura e emoção as palavras de quem via, desde então, o escritor,  mais do eu mesmo o via. Contar, por todos esses anos (e lá se vão mais de 10!), com amizade dessa guerreira é dos privilégios o maior. Na época da criação do Anacrônicas , fazíamos uma oficina de escrita, e de crítica dos nossos escritos, eu, Giovanna e Claudia Chigres, outra amiga cuja conversa e afinidade o tempo e a distância não interrompem. A amorosidade sem concessões com que nos líamos consolidou laços que estão até hoje fortes dentro de mim. Além desses laços, ficaram os contos que escrevemos. Alguns Cláudia publicou no  Como se .  Os outros guardo inéditos nalguma gaveta de um HD.