Que tempos são esses, Brecht?

Não existe uma teoria do tapa na cara. Pelo menos para quem o leva. Da mesma forma, por mais que dramaturgos, atores, críticos, historiadores da arte pesquisem a e teorizem sobre o teatro épico, as ideias do dramaturgo, poeta e encenador alemão Bertold Brecht (1898-1956) são refratárias à teoria pura. Pelo menos para os espectadores, não há lugar melhor para a percepção do teatro épico do que no corpo a corpo com a cena e com os atores. 

Se você conhece a teoria, mas pouco a experimentou em cena; se não conhece e quer conhecer; se não conhece e gosta de teatro; se não gosta de teatro, mas quer saber o que faz no mundo... não importa. Vá assistir à exposição "Que tempos são esses?", que fica no CCBB do Rio só até dia 19/9.
Acabei de chegar de lá e foi uma experiência única. A intensidade com que a Companhia Ensaio Aberto nos faz viver as ideias de Brecht é indescritível. O espectador entra na exposição e, se houver o mínimo de consciência política, de sensibilidade estética, ou de vergonha na cara, sai transtornado. E transformado. Fui e volto. Fiquei com vontade de levar os alunos e de indicar para os amigos. Todos. Também para os inimigos e os em cima do muro, principalmente. Imperdível.

O título do programa dá conta do recado. "Que tempos são esses?" é uma pergunta que não se cala. 60 anos após a morte de Brecht, 71 após o fim da II Guerra, ainda devemos nos perguntar se de fato acabou aquela Era dos Extremos, que o historiador Eric Hobsbawm queria que tivesse sido um "breve século XX". A necessidade e a atualidade de Brecht respondem: ainda não saímos de lá. A bondade e a liberdade ainda não são supérfluas. Por esse motivo, também vale conferir, além da exposição, todo o projeto multidisciplinar, que inclui um seminário internacional, uma mostra de filmes, oficinas e um ciclo de leituras. Confiram na programação o que ainda dá para aproveitar. Fica aí minha dica pra gente ver se o homem ainda consegue ser amigo do homem.

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