O desencanto das ruas
Publicado originalmente na revista escrita, PUC-Rio, Programa de Pós-graduação - Letras, em 1997.
O DESENCANTO DAS RUAS
(Alexandre Faria)
"A rua é a transformadora das línguas"
[JOÃO DO RIO: A alma encantadora das ruas]
1. Grafites
De liberdades
que o sangue tentou
imacular
a caretas lacônicas
herméticas
a história se
inscreve no muro
e os ombros de meu
mundo
suportam os mur
os sob palavras
que se mut
ilam.
2. Janelas Abertas
A certeza volá
til de que me
caberá um
a parte
no próximo
tiro en
cerra a paisagem
o medo rouba
me as
janelas
arromba-me
a retina o
fogo
cruzado
entre heróis
e mortos.
3. Bares
H umi
L dade na noite
dos ausentes in
felizes dotados de fígado
toda dor escorre
amarela
pelo húmus de um
beco úrico
me mata como
gozo
essa geleia hepática
que umedece os
lábios da vida.
4. passeio público
Imunes
às flores dos esgotos
proliferam-se
conversas celulares
no meio
fio anestesiado
evitam
os
invólucros fétidos
que um
remoto
misantropo
chamara
gente.
5.Arrastão
Tapetes
espécies de bran
cura endêmica
sob negros pés
soterrados
nada me re
cord
a o coração
da raça que
hojesembola
no
corre-corre
de fomes e ódios.
6. Pivetes na praça XV
Piso nas pedras do
caos
e o mergulho se me de
monstra
única ordem
possível
intoxica e alimenta esse
gás
donde
pétalas de mãos
famintas e
viciadas
emergem e
apontam
para o condenado
no paredão
do mar.
7. Dejetos
Restos
de homens
trafegam barateados
nos canos - lab
irinto de peri
planetas
manilhas
aprisionam minha
língua
diluo em
álcool o charco
das
veias -
de
capito
os membros
inertes que
nutri ex
creto.
8. A Língua das Ruas
Mur
mur
os de
bar
bar os
inviolável meu corpo vil
ipendiado
inchado meu coração
meus paços fora do centro
em que rua
repisa
da a pegada
de
onde nasci
mur
múrios de
bár
baros
imperscrutável minha entranha.