Lágrima Palhaça - 25 anos de engavetamento


O poema que está no post anterior, saiu de um livro, também intitulado Lágrima palhaça, que escrevi com 16 anos. Naquela época talvez eu desconfiasse mais de mim mesmo do que seja capaz de desconfiar hoje dos moleques de 16. Junto com o cinza dos cabelos vem certa benevolência complacente. Se isso for algum sintoma do que chamam sabedoria, é sinal de que depois de velho (o que já nasci sendo) e sábio (será?), só me falta ficar chinês.

O livro é um conjunto de poemas que tenta usar o circo como alegoria das percepções de que, então, eu era capaz. Do conjunto apenas dois títulos tornaram-se públicos, em 1994 (?), na coletânea Vida tida linguagem, com poemas e traduções dos participantes da Oficina de Poesia Mário Faustino, no Diretório Acadêmico da Faculdade de Letras da UERJ, sob o comando do saudoso Jorge Wanderley, de Luiz Carlos Lima e de Italo Moriconi (isso tem que ser assunto para outro post). São o próprio Lágrima palhaça, e Encanto e domínio, que segue abaixo.

Penso que para comemorar esses 25 anos do engavetamento de Lágrima palhaça, deveria transformá-lo num ebook e presentear meus amigos neste fim-de-ano. Aguardo nos comentários sugestões e adesão à ideia.

ENCANTO E DOMÍNIO
O encantador de serpentes
Ao som da flauta mágica
Questiona o brilho que sente
De seus olhos na presa da naja.
Pergunta se o encanto tocado
De sua flauta emana
Ou pela cobra é enviado
Indaga se o veneno que divisa
Cria-lhe escama
Ou só a ela humaniza.

A naja, encantada,
Na voz do mito serpentino
Percebe que o bote seria a cilada
Para roubar-lhe o predestino.
Então se amansa em humildade,
Oculta a própria maçã
E oferece a outra face da maldade:
Uma dança enroscada e amante,
Qual irmão e irmã
No encanto ambidominante.

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