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Mostrando postagens de 2018

Hai-kai pelos 10 anos de Clarice, pequena gênese

A pétala guarda Na superfície da flor A manhã serena Essa semana, terça ou quarta, coloquei o Caravanas do Chico. Quando tocou "Dueto", que ele já havia gravado com Nara Leão, e, nesse disco, reapresenta dividindo a voz com Clara, sua neta, lembrei de Clarice. É uma canção que gostamos de ouvir juntos, nas viagens de carro. Fui ouvindo e pensando que Clarice faria dali a alguns dias 10 anos. E fiquei pilhado para fazer um poema para ela, afinal, 10 anos são 10 anos! E fiquei pensando num poema que desse conta daquele sentimento que dá diante de um amor que não acaba, mesmo se o calendário nos contrariar, algo que nos autorizaria mandar  às favas o evangelho e todos os orixás. Fiquei pensando, sentindo, mas o poema não rolou. Hoje, no Facebook, Carolina postou este texto maravilhoso, sensível e inteligente, como tudo que ela escreve, em homenagem a Clarice. Dá conta com precisão e delicadeza do papel dela na nossa família. Sua tranquilidade, seu equilíbrio, sua be

Entrevista a Marisa Loures - Sala de Leitura - Tribuna de Minas

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Publicada originalmente em https://tribunademinas.com.br/blogs/sala-de-leitura/04-09-2018/alexandre-faria-um-poeta-sempre-atuante.html PDF da versão impressa Alexandre Faria: um poeta sempre atuante Por Marisa Loures O poeta e professor da UFJF Alexandre Faria reúne poemas que mapeiam alguns dos principais crimes políticos ocorridos no Brasil ao longo dos últimos 26 anos, em “oourodooutro” – Foto Fernando Priamo Importante começar este texto invocando as últimas palavras do poeta, em “oourodooutro”(textoTerritório, 124 páginas). Elas são certeiras. Talvez, assim, os debates que tomam conta das redes sociais deixem de ser tão vazios e ensimesmados. Talvez, assim, a gente não se esqueça do outro. Isso porque, sem meias palavras, na página derradeira, o poeta escancara barbaridades ocorridas no Brasil ao longo dos últimos 26 anos. Crimes políticos resultantes do ódio. “oourodooutro” foi composto “há 25 anos das chacinas/ de vigário geral, carandiru e candelária/ h

Anotacao no facebook, sobre o I, há 3 anos

Estou há mais ou menos 2 anos tentando um livro de poemas que, quando o pensei, pareceu-me muito fácil e esquemático. Mas não está sendo simples quanto imaginara. Montei todo o esquema e o resultado está custoso. E delirante. Sempre que olho bem, convenço-me de que a interpretação racional do mundo só pode ter surgido de um absoluto delírio. Ah, a falácia dos esquemas, das cosmologias e das fórmulas! Conforme as olhamos, podem passar muito bem por alucinções. As primárias contemplações da presença, do mundo, do homem e a pergunta inevitável: qual o sentido? Aí começam os delírios cujos resultados são tão convincentes, que o esquema dispensa aquela presença original, que o mundo se explica sem estar. E o delírio vende-se como razão, lógica, sensatez, juízo. Por isso insisto na poesia. A tentativa (sempre frustrada) de reviver essa experiência primária, de delirar em ordem. Espero que consiga terminar este. Será um livro absolutamente inútil e dispensável. Mas não consi

Classe de palavras, Anelise Freitas

Classe de palavras para Alexandre Faria construir sem verbos a ação dos corpos motivar o movimento das mãos em marcha e as vozes como um assobia ou um canto e o desejo a transformação como palavra voz presença daquilo que queremos fora FREITAS, Anelise. Sozé . Juiz de Fora: Macondo, 2018. p. 71

E agora, Sozé

(Um bilhete para Anelise Freitas) Primeiro fico comovido com a dedicatória em um poema . Agradeço de coração. Lembro dele no exercício da oficina na greve! Li, preciso reler. Mapear referências. Interpretar (?). Vai aqui só impressão do que me surge no corpo. Na presença. Na essência da forma. Vejo maturidade e coesão da linguagem que acusa como era jeca aquele José sem Minas. Sozé é cosmopolita. Se emparelha bem com o albatroz (o elefante?), o iceberg e a baleia, e constrói uma poesia sáfica de lábios, pernas, peles em paralelo com a contabilidade dos cacos e dos mortos quando os aviões passam ou caem.  O jornal não é diário, mas história, tipo fazer a previsão do tempo passado. Tudo poesia de sobrevivência diante de um cosmos sem emparedamento que afunda o cotidiano numa subjetividade tão grande a ponto de negar cifras ao presente.  Bonito, Ane, o lugar aonde se chega com esse livro denso, duro. E sensível. Violentamente sensível aos dramas do mundo, e sobretudo, à lí