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Mostrando postagens de maio, 2007

Detran

--- Para Maura --- I Sinal de apito (Carlos Drummond de Andrade) Um silvo breve: Atenção, siga. Dois silvos breves: Pare. Um silvo breve à noite: Acenda a lanterna. Um silvo longo: Diminua a marcha. Um silvo longo e breve: Motoristas a postos. (A esse sinal todos os motoristas tomam lugar nos seus veículos para movimentá-los imediatamente.) II E quebro porque impreciso. E requebro e danço e freto desatinos ao futuro. Por que duro, por que neutro, por que impávido colo impassível osso o flerte com o destino? Atravessa o ritmo domado. Desarma o istmo do medo. Arrisca mais, que o porvir não é um vermelhovintessete e só um grande NÃO pode abrir muitos sim-talvezes. E duro porque quebro. E amarelo e agradeço e aconteço ao sonho do compasso. Por que preciso, por que incisivo canino na artéria da vida, corda no pescoço do verbo? Vaga por desprecisar de fio. Sai do trilho, rapa do trânsito. Petisca o de dentro do mistério, que é sincero o amparo dos vãos e afeuosos os braços que esperam do out

Mário Quintana

Umas coisas que disse ao telefone para a Fernanda Fernandes fazer matéria na Tribuna de Minas (30/07) por conta do centenário do poeta: Em textos do próprio Quintana, a poesia é colocada como algo dramaticamente emocional. Ele se destaca em formas como o hai cai e o epigrama, que funcionam como explosões dramáticas. Antes de conversar com a reportagem, Alexandre questionou seus alunos sobre o poeta e constatou que muitos sabiam de cor poemas de Quintana. O professor acredita que muito desta popularidade se deve ao tom prosaico. No entanto, Alexandre pondera que o forte apelo nem sempre acerta na construção de uma linguagem poética. Para ele, há rigor poético nos versos de Manuel Bandeira, porém o mesmo não acontece em Quintana, cuja obra é estável, oferecendo o mesmo tipo de poesia do começo ao fim. “Acho que ele deveria ser mais lido em sua prosa, nas pequenas reflexões que produziu para a imprensa. No entanto, ele é quase sempre lembrado como poeta.”

Zuzu Angel no Cinema

Mais importante do que assistir ao Zuzu Angel, talvez seja prestar atenção à fala da garotada que sai do cinema. Longe de ser uma obra de arte, o filme vale pela produção de memória. Há episódios vergonhosos de nossa história que merecem, a despeito do tratamento romântico e folhetinesco que sofrem, ser revistos sempre. Houve, há algum tempo, Olga e, agora, este Zuzu Angel parece padece do mesmo mal: a construção de uma imagem infantilizada do militante da esquerda. É a falta de jeito para o impulso erótico ou afetivo, para o pathos motor do personagem folhetinesco, que o desqualifica diante do público novelesco. No caso do filme que estreou neste fim-de-semana, um agravante: a forte imagem cazuza, que o ator Daniel Oliveira agregou e fez pouca questão de descaracterizar, sem falar do conflito mãe/filho que remete à também recente biografia filmada por Sandra Werenck e Walter Carvalho. Uma imagem compõe a outra na aparência, mas são no fundo bastante opostas: o projeto revolucionário d

Ato falho da professora de grego

Letícia cadastrou Sua alegria no Letes.

Virem video

Imagem
Não saio do silêncio como deixam a casa as coisas furtadas. Perdi o susto e atabalhoei a língua, gago infinito. Sempre fica noutro lugar o edifício demolido. Emprenham a memória os posts que não postei: e férias em paraty-trindade e colóquio e teses e reuiniões e arguições e bancas e revisões que pensem que digam que falem que fui seguido por tantos olhos num só, oswaldo felipe bárbara daniel, que talvez virem vídeo esses meses em branco. (09/11/2006)

Monsuetudine

- para o Oswaldo e a Wal - assim mesmo sem curvas metafóricas filosofia mera rasa alcova. educação começa entre as pernas. evitar a dor, jamais. evitar a rima é muito mais assim mesmo sem retrato do cabral cura epicurista nó molhado. certeza de dar o beiço no morfeu. se há samba foi a vida quem nos deu. assim mesmo sem pesar na peneira cosmogonia de cabras. é dar no couro e salvar a tela. no batuque do silêncio o farrapo da intriga assim mesmo a negra lira a entrega sem emprego. sonho de comer boceta de óleo sobre pele. o solo da batucada nó na madeira dó de peito nó na garganta espécie inofensiva de de toma que o filho é seu de cócoras assim mesmo sem logos assim mesmo sem mitos assim mesmo sem epos assim mesmo no pau assim mesmo no pé assim mesmo essa mulher assim mesmo (abocanhada

Aquecimento Global

Os mais preocupados hoje indagam: "Como se conservará o homem?" Zaratustra, porém, foi o primeiro e único que indagou: "Como se superará o homem? (Nietzsche)

Demasiado Humano

Se aquela coisa tivesse durado mais um segundo, o polícia estaria morto. Imaginou-o, assim, caído, as pernas abertas, os bugalhos apavorados, um fio de sangue empastando-lhe os cabelos, formando um riacho entre os seixos de vereda. Muito bem! Ia arrastá-lo para dentro da caatinga, entregá-lo aos urubus. Ainda faltava, então, um golpe final. Um golpe a mais? Eu não a olhava, mas me repetia que um golpe ainda me era necessário – repetia-o lentamente como se cada repetição tivesse por finalidade dar uma ordem de comando às batidas de meu coração, as batidas que eram espaçadas demais como uma dor da qual eu não sentisse o sofrimento. E não sentiria remorso. Dormiria com a mulher, sossegado, na cama de varas. Depois gritaria aos meninos, que precisavam de criação. Era um homem, evidentemente. Até que – enfim conseguindo me ouvir, enfim conseguindo me comandar – ergui a mão bem alto como se meu corpo todo, junto com o golpe do braço, também fosse cair em peso. Fixou os olhos nos olhos do pol

Interações

Dependência total da escrita. Por outro lado, ainda aprendo a lidar com o suporte digital. Blog em especial. Já abri alguns e abandonei todos. Acho que agora começo a entender. Nunca gostei de diários, mas sempre tive cadernos de notas. Algumas impublicáveis de tão... furiosas, ruins?. Talvez eu abandone de vez o caderno e aprenda a acalmar de primeira as notas furiosas. Ou não. Além do mais, hospedado no TextoTerritório, as coisas ficam mais do meu jeito. Aqueles textos iam direto pra gaveta ou viravam poemas e contos que tinham o mesmo destino, depois de lidos por dois ou três amigos, no máximo. Hoje em dia, um texto mal se acaba e já vai para o blog, já é público. A noção de acabamento que orientava a publicação impressa foi muito transformada. Fica tudo rápido demais, e transitório quase sempre. As interações com o leitor também são outras. Às vezes penso que post pode se tornar um novo gênero literário.

A poesia em cena

Publicado originalmente em  Aguarrás , vol. 2, n. 7. ISSN 1980-7767. Rio de Janeiro, MAI/JUN 2007. Errática – a poesia em movimento é um projeto em que poetas e artistas recitam, cantam, interpretam, criam performances, ou simplesmente conversam com o público, tendo a poesia sempre como motivo principal. O espectador poderá achar as apresentações irregulares, com momentos de fato especiais e outros nem tanto. Mas o que se pretende, aqui, não é propriamente uma resenha crítica do projeto, ainda em andamento, e sim uma reflexão motivada pela sua principal virtude: Errática convida o público a pensar sobre os limites possíveis (ou impossíveis?) que há entre a linguagem poética e outros domínios da expressão artística, como o teatro, a música, as artes plásticas, ou o vídeo. Corre-se sempre o risco de tocar neste assunto e simplificar certas questões teóricas. Mas arriscarei no espaço desta coluna uma experiência de ensaio e erro, a fim de trazer alguns pontos de vista sobre a poesi