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Mostrando postagens de 2013

Se oriente

(para clarice, que me deu folhas em branco. também para pedro, fernanda. e capilé) nos olhos do que deixa não do que abandona miro meu dia e digo amor como se todo num sólido com vaga certeza o espaço descrevesse meu giro daria um poema em holocausto para cada hora cujo silêncio rendeu-me da tese um bom futuro mas nunca passaram de quinta na esquina as utopias os manos e as minas nunca passaram nunca passarão hoje poemas e teses soam iguais e temo por em verso o mês presente a vida espacial o dó menor que é fazer-se todo num só apenas sigo o que deixa nunca o que abandona

Búlica, de Elesbão Ribeiro

para alexandre faria  as calçadas eram largas um dia chegaram uns homens pretos brancos e mulatos com muita força nas picaretas quebraram as calçadas dentro daquele sulco puseram uns canos atarraxaram os canos cobriram e foram embora naquele leito de terra jogávamos bola de gude um dia meu pai anunciou o prefeito mandou cada morador ajeitar a sua calçada

Silêncio e caos, por Vilma Costa

Venta não, de Alexandre Faria, reúne noventa poemas subdivididos em dois grupos. O primeiro, “tudo muito sempre”, possui oitenta e um poemas. O segundo, “o pai era um”, agrupa os nove restantes, cada qual formado por nove versos. Há uma estrutura diferenciada entre os dois blocos, tanto do ponto de vista formal quanto de conteúdo semântico. A numeração desses textos, e não as páginas do livro, chama a atenção pelo rigor linear e crescente do primeiro bloco (1 a 81), enquanto os nove últimos se apresentam em ordem inversa (de 90 a 82). Podemos considerar que a ordem numérica quebrada com a segunda parte do livro, além de estabelecer um corte entre as duas, põe em questão a equação matemática. Sugere que o livro é para ser lido não apenas do início ao fim, mas do meio ao fim, do fim ao início, do fim ao meio — como deve ser lida qualquer intrigante coletânea de poesia. Uma breve consulta virtual aponta a ligação com o livro chinês Tao te ching (O livro do caminho e da virtude), atri

Cidades, museus

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A carioca, de Pedro Américo Crônica (conto) publicada na Tribuna de Minas, Juiz de Fora, 13/10/2013. Cidades, museus Para Renato Cordeiro Gomes Anos viajando para consultoria em análise de sistemas e métodos, criei um hobby. Coleciono cidades. No início, visitava os museus das cidades aonde ia, mas depois os deixei pra lá. Só as cidades são museus de si. Os museus, pelo contrário, são cidades alheias, mosaicos de expropriações ou espólio de excêntricos que, doados às prefeituras, tornam-se o ônus da História. Ir a um museu é perder-se da cidade que se visita. Por isso, os museus devem ser o patrimônio primeiro dos cidadãos, dos que por fatal natalidade não podem fazer o uso que um estranho faz de seu lugar. Deviam coibir a entrada de turistas nos museus e estimular que os nativos, desde a infância, aprendessem a sair da cidade através deles. Mas é justamente o contrário o que fazem. Na minha cidade, por exemplo, tem um museu só com réplicas – vê se pode! - de Pedro Américo, filho

Movimento 5. de Oka, de Rute Gusmão

5. para Alexandre Faria I palavra por palavra oculta o texto tijolo por tijolo sobe o muro tiro por tiro conta o perigo prego por prego segue o castigo II à luz do dia pedaços de ossos no porto da cidade maravilha crânios mandingas aterro e lixo à luz do dia destroços capoeiras sítio valongo cais da gamboa mercado camerino trapiche III quilombos – batuque e angu libambos depois – lundu IV dia a dia a notícia dente por dente fala a ferida

duas notas em sábado, 17/08/2013

Duas notas, em sábado, 17/08/2013. 1- Medos. Manhã. Festa dos pais na escola. A turma do maternal (Clarice é do pré) canta uma canção que diz que o pai é super-heroi etc. Ela, na plateia, assistindo a tudo do meu lado, pergunta: "Você não tem medo de nada não é, pai?" Penso nas inquietações da existência, na absoluta falta de sentido da vida, na morte, e de como, com o tempo, foi se tornando menos importante indagar pelo medo do não sabido que viver um dia de cada vez. "Não, filha, não tenho. E você quando crescer também não vai ter." E ela conclui, alegre: "Vou até matar barata, né?" "É claro, filha, vai até matar barata". 2. Imagens. Noite. Saio do "abraçaço" de alma lavda. Invejavelmente em forma um dos poucos artistas que ainda se dedicam a pensar o Brasil. Foi a primeira vez em que assisti ao show e à plateia com a mesma atenção (ossos do ofício - literatura e estudos culturais+estética da recepção). Ainda incompreensível para m

Fotos Lançamento Venta Não em Juiz de Fora

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Venta não - booktrailer

1. O que tem no cinema. Uma das melhores coisas que aprendi na minha carreira de poeta é que um livro não se faz solitariamente. O maldito “Beneditino escreve” é uma farsa. Rapaço meu rapace: nenhum agradecimento me é dispensável. Uma lista de créditos no final. André Capilé Daniel Neves Edimilson de Almeida Pereira Fábio Fortes Felipe David Rodrigues Fernanda Fernandes Gilvan Procópio Ribeiro Maura Santiago Oswaldo Martins Pedro Paiva Leram, falaram mem, falaram bal, me emprestaram olhos línguas mãos ouvidos (ninguém cheirou) dicionários. Trocaram e viveram o livro para além do que é o livro. Não toca a vida a palavra, só a calcina. Me tocaram. A vida. O sonho de fazer um livro de poemas como se fosse cinema. 2. O que no cinema não há. A dedicatória. Carolina Barreto Fernanda Fernandes Oswaldo Martins Paulo Roberto Tonani Tatiana Franca   com cujá e saquê, Uma vez esses 5 mais eu nos encontramos num restaurante japonês em torno

Passe partout

entre o quadro e a moldura o amor é o que me faz chorar bobo quando chega com o boletim tudo azul o que me grita alegre dentro quando ouve médico faz check-up diz que vai malhar o que me cala a dizer sim quando seus olhos explodem e a casa cai

Urania na Praia de Tambaú, João Pessoa (PB)

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(Tatiana Franca)

Rasgando o bloco de notas do E63

Vista dos confins mais distantes do espaço, a Terra não é maior que uma partícula de poeira. Lembre-se disso a próxima vez que escrever a palavra humanidade (...) Quando finalmente me puserem contra a parede e apontarem seus rifles para o meu corpo, a única coisa que vou pedir a eles é que me tirem a venda. Não porque esteja interessado em ver os homens que vão me matar, mas quero poder olhar para o céu outra vez (...) fitar uma última vez o infinito que gane.(Paul Auster) Sob tortura tem cuidado de sarar tem cuidado de velar tem cuidado de dar mão meu é o cuidado de quem cala (sem data) A história não faz filhos Em quem vive nas filas dos bancos. Acontecimentos religiosos da raça são: o carnaval, católico e o sarau, protestante. (sem data) Aranjuez E porque não há o que diga O que dê conta do solo de cordas sem palavras O poeta cavalo da humana falha Repete mon amour Da música não o som, o movimento Do quadro, não a imagem, o