Sérgio Vaz, FLUP, poesia e ética

No último sábado tive a alegria de apresentar, no encontro da FLUP Pensa, o Poeta Sérgio Vaz. Lembrei o surgimento dos primeiros sinais da literatura periférica, que se deram lá se vão mais de 15 anos, entres os quais é inegável a importância e a longevidade da Cooperifa. Sabemos das dores e delícias de promover cultura (ainda mais periférica) no Brasil. Sabemos que o início dos anos 2000 foram mais do que propícios para o afloramento, no solo da sociedade brasileira, as nossas vozes periféricas. Hoje, jogo feito e golpe em curso, não há dúvidas de que as dificuldades são maiores ainda. Por isso, na mesma fala, não pude deixar de elogiar a garra e resistência de meus queridos Ecio Salles e Julio Ludemir, que a despeito da crise e da exiguidade dos recursos, decidem manter viva a FLUP, e contam com o auxílio luxuoso de Bernardo Vilhena e Ramon Nunes Mello, com quem tenho a (e que!) responsabilidade de dividir a banca de poesia.
Terminei a apresentação citando um famoso dístico do poeta, o que - me parece - causou bom efeito e criou abertura para a socialização de sonhos que são a Flup, a literatura, a poesia:
"Enquanto eles capitalizam a realidade
Eu socializo meus sonhos."
Mas como assim? - perguntará o leitor - mas como assim, socializar sonhos, diante de uma realidade tão dura, golpista e capitalista?
Não seria uma doutrina cínica o fato de a sorte dos descendentes e de todos os amigos de um homem não lhe afetar a felicidade? Já essa pergunta, meu caro, está em Aristóteles. Vale conferir a "Ética a Nicômaco".
Quem não conhece Sergio Vaz, não pense que o fará pelas minhas palavras. Vá direto ao "Colecionador de Pedras", vá ao "Literatura, pão e poesia"; vá ao "Cooperifa: antropofagia periférica", e não deixe de ir também ao seu "Flores de alvenaria". Neste último, o leitor encontrará dicas preciosas para aquela possível pergunta.
"Seja feliz", parece que é uma das respostas possíveis na poesia de Sérgio Vaz.
Para explicar melhor por que a poesia, por que ainda e sempre a poesia, cito a seguir dois poemas de Vaz e acrescento - o que já então será totalmente desnecessário - um comentário de Aristóteles:
"O que sinto
não é felicidade,
é desprezo
pela tristeza."
"A felicidade
não faz mais do que a obrigação
em me manter alegre e satisfeito.
Ela tem dívidas comigo."
(VAZ, Sergio. Flores de alvenaria. São Paulo: Global, 2016)
"Com efeito, enquanto a vida inteira dos deuses é bem-aventurada e a dos homens o é na medida em que possui algo dessa atividade, nenhum dos outros animais é feliz, uma vez que de nenhum modo participam eles da contemplação. A felicidade tem, por conseguinte, as mesmas fronteiras que a contemplação, e os que estão na mais plena posse desta última são os mais genuinamente felizes, não como simples concomitante mas em virtude da própria contemplação, pois que esta é preciosa em si mesma. E assim, a felicidade deve ser alguma forma de contemplação." (Aristóteles)

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