TextoTerritório, uma editora dos ainda não comentados, de Carlos Augusto Corrêa

Crônica da coluna Chão de Praça, no Facebook de 31/03/2016

                            Carlos Augusto Corrêa

  Texto Território, uma Editora dos ainda Não Comentados

Hoje tive a satisfação de rever o poeta e professor Alexandre Faria, amigo que já não via há um bom par de anos, e que me valeu instantes prazerosos de conversa numa casa de lanches em Bonsucesso. Tocamos na situação conflituosa do país, nas ditaduras do passado, em especial a de 69, por sinal de lamentável memória, mas o foco de nossa conversa foi sobretudo, e não poderia deixar de ser, a poesia. E dentro desse assunto a conversa enveredou para a editora que Alexandre e o poeta e professor Oswaldo Martins fundaram, de nome Texto Território.
Posso antes de tudo dizer aos poetas: sorriam! Porque o objetivo desta nova e significativa casa de publicação é a poesia. Seus editores decidiram publicar poetas novíssimos ou aqueles já de algum tempo ou de muitos anos de fazer literário, mas que não são lembrados, seja por que motivo... O fato é que ambos elegeram a arte poética como centro de suas atenções.
Recebi de Alexandre nada mais, nada menos do que dez livros que a editora produziu de 2012 até o presente. Fiquei entupido de obras e ávido para primeiro correr os olhos por todas e em seguida lê-las sempre que o tempo, esse velho engulidor de vidas, o permitir. Selecionei aqui o livro "venta não", de Alexandre Faria, que veio a lume em 2013. Posso afiançar a meus raros leitores que, nesta obra, Alexandre revela-se um poeta que se sobreleva pela concisão. Sim, textos bem concisos, de poucas palavras, como a geração de 90 para cá vem praticando, mas com um detalhe que encarece a importância dos poemas. É que o poeta trabalha imagens insólitas e força o leitor a perceber o que se encontra nas entrelinhas do que é dito. Vejamos o texto de número 7: "se eterno|nunca|se eterno|onde?|| só o que é com|aqui|agora". Uma dicção, sem dúvida, original. E nela se nota a inquietação metafísica da questão da eternidade e da vida breve. Implicitamente subjaz a ideia batida do viver aqui e agora, que Alexandre Faria revigora.
O leitor necessita de ter uma iniciação para melhor captar o que existe no texto e se presta a variadas leituras. No poema seguinte, de número 8, diz:"sê aqui agora||não voltes|não fiques|não partas". Novamente, com menos palavras, há uma necessidade de reter a atenção sobre o tempo presente, mas tudo é expresso com originalidade.
Resumindo: em todo o livro, essa preocupação de dizer o mínimo de forma pessoal e,repito, com palavras que refletem a vivência dentro da história. É o que "venta não" me suscita e deve despertar em todos quantos se puserem a ler com a devida soltura, pra poderem dar uma visão pessoal e assim enriquecer a obra.
Com o tempo vou fazendo comentários às outras publicações da editora. Por enquanto, aqui fica o prazer de ter reencontrado Alexandre Faria, pondo em dia nossa amizade, fica igualmente a alegria de saber que nasceu uma editora que só quer saber da ars poética e mais, satisfaz o fato de ter comentado, ainda que em linhas resumidas, o que escreveu o poeta em uma de suas boas produções.

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