Janeiro Poente

Continuo futucando os arquivos. Este vai fazer 20 anos de existência. E a cidade é a mesmo. Leio hoje no Sarau de Manguinhos.



prólogo: Olho D'água

este samba é só porque
minha terra tem primores
mulata palmeira guanabaras
sabiás braços abertos


lado um: VERÃO

me desterro
em tuas águas
e calçadas
tuas veias secas
cicatrizes
do corte de trilhos
e vilas
imersos em janeiro
profundo

me desterram
tuas águas
tuas pás levando
a lama e as ruínas
com que levanto
esta rePresa
de palavras
entre a ladainha eleitoral
e a draga da fé.

teu sangue é água é meu sangue
bebamo-nos
pelos dias que
me tomas
e pelos versos
que te dou
pois se és rio
sou mais


farsa: AVAL

é uma quarta-feira
de cinzas
sem carnaval
tenho um tiro
e uma culatra
e um país que se amassa
como lata de cerveja

reciclável


lado dois: PRESA

presuntos no fundão
putas de ipanema
estupradas no aterro
merda no mar da ilha
do governador
teu comando em bangu um
outro out-door explica:
recuperamos esta rua
durante a noite
para seu conforto
e de teus turistas, rio
que no cio
predam a noite
a madrugada é varada por uma linha menstruada o sol não nasce, o rio se põe, desemboca
em são cristóvão
onde o peão
braços abertos
mãos ao alto
sebastião alvejado
te criva e se curva
ao fRio
de janeiro
fevereiro e março
inverno de 92.

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