Carioca - faixa 1

- para a Vand -

Gostei de ouvir os acordes do choro-canção. Também os queria. Mas não deixa, da mesma forma, de ser foda e falso ainda pensar a cidade assim dividida em duas. A cidade partida ficou estilhaçada e (re)parti-la em dois só é vocação racionalista e ordeira. Dessa ordem binária que se nos entranhou desde a canção do exílio: vamos mapeando nossos cá e lá internamente, como se pudesse ser saudosa a velha belíndia.

Não me parece ser mais assim. Há segregação dentro da segregaçãodentrodasegregação. E está tudo aí: enumeração aleatória produzidas em retinas arrombadas mais para carioca do que para subúrbio. Mas manteremos a circunspecção enquanto as balas do exílio mandam para o outro lado policiais, favelados e o vizinho. Repetiremos ainda não é comigo, como naquele filme de Mathieu Kassovitz, O ódio. São Paulo, por exemplo, de novo na vanguarda, armas na rua e celulares nas prisões. Dessa vez foi menor o silêncio sorridente. Mas os cariocas ainda podem dizer "até aqui tudo bem".

Mas volto aos acordes do choro-canção. Em busca do paraíso perdido, do tempo da delicadeza. Tenho uma amiga, chamada Amélie Poulain, que lançou a campanha "Amélie Poulain para a presidência" (não a minha amiga, mas aquela da Audrey Tautou, embora às vezes elas sejam as mesmas). Ótima idéia. Só falta chegarmos ao consenso de que a vocação humana não é sonhar só, mas realizar os sonhos coletivamente. Há outros sonhos na faixa 2.
(30-05-2006)

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